Para quem utiliza redes sociais já deve ter-se deparado com a metáfora do copo meio cheio ou meio vazio. Segundo ela, a forma como entendemos um copo com água pela metade, diz-nos se somos pessoas que vêm mais oportunidades ou mais faltas na nossa própria vida. Como gosto de reflectir, fui-me detendo nisso e nasceu este artigo, no qual quero ir além sobre este assunto pensando sobre como um ou outro paradigma influencia na nossa postura profissional.
Sempre defendi e continuo a defender que somos os mesmos em todas as situações, só mudamos o modus operandi. Essa história de que em casa podemos ser preguiçosos, desleixados e agressivos, mas no trabalho sermos dedicados, organizados e cordiais, não me convence. Até mesmo em questões corriqueiras, se as fazemos em casa, de certeza que fá-las-emos fora dela. Quem nunca disse ou ouviu dizer “só falo mal as palavras porque estou contigo”, mas proferiu ou ouviu a “abobrinha” ser proferida em meio impróprio e o protagonista passou vergonha? Quem nunca mastigou ou viu alguém mastigar de boca aberta, em casa, garantindo que na rua faz bonito, mas que depois expressou ou viu expressar os maus modos em público e seu protagonista passou vergonha até que passasse a policiar-se em casa? Pois então, não adianta pensar “Ah, mas eu penso assim só nas questões pessoais, não levo isso para o trabalho!”. Na verdade, nós somos sistema, nossas acções derivam de nossos pensamentos, que advêm de nossas crenças e, por mais que maquilhemos por um tempo ou em determinados contextos, sempre vêm ao de cima. Portanto, nossa visão de mundo reflecte-se na nossa postura no mundo e, isso inclui o local de trabalho.
Descubra a sua visão de Mundo
Como você vê o universo?
Encontra-se a repetir frases como: tempo é dinheiro, não há lugar para todos, vence o mais forte, os recursos são escassos (como se defende em Economia), etc. e tal? Se sim, então você tem vivido no esgotante e solitário universo limitado dos que vêm o copo meio vazio. Este é o perfil competidor.
Se não se reviu no paradigma anterior, é provável que faça parte do grupo dos que vêm o universo como vasto, rico e cheio de oportunidades para todos, vendo o copo meio cheio. Este é o perfil Cooperador.
Diversos motivos existem para justificar um e outro paradigma, o quais passam por questões relativas a vivência do indivíduo, que podem incluir traumas de infância como abandono afectivo, por exemplo; mas essa não é a missão deste artigo e nem se trata de minha área de estudo. Pode ser que em algum momento aprofunde o tópico, convidando amigos psicólogos para o fazerem, mas para já, aqui compete-me levar a questão para o campo da gestão, discutindo as consequências de ser um profissional com um ou outro perfil.
Visão de mundo “copo meio vazio” – Perfil Profissional Competidor
Mas você pode pensar: “O que há de mal em ser competidor? Isso é bullying!” Não, não se trata de bullying. Não se confunda ser competidor com ser competitivo. Embora ambos impliquem estar a olhar para fora de si, indexando-se ao outro, ser competitivo pode, em algum grau, até ser saudável pois olha-se para o outro a fim de se esforçar para se desenvolver; o mesmo não se aplica a ser competidor, que é objecto deste artigo. O ponto é que o perfil competidor expressa um estado interno de sofrimento: olha-se para o outro como adversário, olha-se para a oportunidade como a última da vida, vive-se em tensão, ansioso, sob stress e tem-se relacionamentos precários, tanto com familiares quanto com colegas de trabalho. Eis aqui alguns exemplos:
Pense naquele colega de trabalho que, criada uma task-force, esconde os termos de referência da tarefa e só os partilha a 5 minutos da reunião de entrega; ou lembre-se do chefe de RH que não defende bónus para uma equipa de vendas que performou o esperado, porque ele não se vai beneficiar; ou aquele Director que se recusa a analisar pedidos de aumento salarial (mesmo quando ele está a centenas de diferença salarial positiva) só porque lhe satisfaz o ego manter essa distância. De certeza que já se cruzou com pessoas assim (se é que você não é uma delas). Independentemente disso, é importante entender que esse tipo de postura revela a angústia de que “os outros acabem e não sobre nada para mim”. É o instinto primitivo, predador. Pode ter sido útil nos primórdios (para quem acredita na teoria evolucionista da Darwin), mas tem-se revelado inapropriada num contexto social.
Um estado interno de sofrimento tem sempre como base a comparação, usando-se o outro como indexante: se o outro tem, faz, ganha… então eu não terei, não serei, não ganharei. Pensa-se que sempre que o outro ganha, você perde; que as vitórias alheias esgotam as possibilidades mundiais. Além de ansiedade e stress, essa comparação gera um dos sentimentos mais corrosivos, a inveja. Você vai pensar: “eu, invejoso? Eu só sou justo!”. Ah, pois…, nós nunca somos invejosos, só somos alvo dela, não é mesmo? (espero que tenha entendido o sarcasmo). Se prestou atenção, nas situações acima descritas, em nenhum momento o benefício do outro prejudicava o sujeito, mas mesmo assim havia escolha em não colaborar. Já sei que pela sua cabeça passa que então poderia ser legítima essa comparação se forem colegas do mesmo sector, mas digo-lhe que ainda assim, NÃO! Dois indivíduos que concorrem para a mesma posição, nunca competem entre si, mas com os requisitos do posto tendo em conta as suas aptidões. Nunca se trata de que “se fulano não existisse, eu seria a escolha” mas de que “eu seja a escolha por reunir habilidades que correspondam às necessidades do posto ou da situação”, pois ainda que fulano não exista, se você não reúne o perfil exigido, não será a escolha, ou até pode ser, mas por falta de opção (e aí não tem graça). Então, a comparação deveria ser sempre entre você e você, competindo com os skills exigidos. Indexar-se ao outro, comparar-se ao outro, impede que se descubram os skills pessoais, perde-se tempo em que se poderia estar a aprimorar-se e, consequentemente, perdem-se oportunidades.
Você pode estar a dizer: “mas Katy, tu não conhecesses minha organização, se eu não for assim, não me destaco; ali é salve-se quem puder”. Não sou ingénua, sei bem que há Instituições que estimulam esse perfil, mas elas não sabem que perdem, pois neste contexto, as pessoas trabalham umas contra as outras, todas em estados internos de sofrimento, ansiosas e inimigas, levando a um desempenho colectivo sempre raso. Mas você já sabe que esse perfil é prejudicial, principalmente para si próprio, então, ainda que o contexto da sua organização seja lesivo, é seu dever buscar melhorar, a fim de sair desse ciclo. A alternativa é desenvolver uma visão de mundo “copo meio cheio”.
Visão de mundo “copo meio cheio” – Perfil Profissional Cooperador
Pelo que explicamos sobre o perfil competidor, imagino que esteja simples inferir como seja alguém com perfil cooperador! Um profissional cooperador vive num estado interno de graça, de contentamento. Não se confunda com conformismo. No conformismo a pessoa vive ainda com a mentalidade de escassez, com medo de que acabe, que “perca o pouco que tem, que é melhor do que nada”. Contentamento é uma mentalidade de abundância, de que se tem o que lhe basta e ainda sobra para partilhar.
O contentamento tem como base a auto-superação, o desenvolvimento pessoal, e tem efeito multiplicador. Pense naquele colega que desenvolve uma habilidade em Excel e logo que chega quer passar para todo mundo a fim de que todos melhorem a performance individual. A equipa fica mais eficiente na realização daquela tarefa corrente e fica com tempo para se concentrar em questões mais complexas ou até permite-se finalizar o expediente mais cedo. Quem não gosta de trabalhar com gente assim? Não sei vocês, mas eu amo ter gente assim na minha equipa. São pessoas solares, que fazem de trabalhar, uma actividade prazerosa. Para eles, há espaço para todos. Enquanto se nutrem, nutrem outros, multiplicam. Têm relacionamentos pessoais de qualidade e isso se reflecte na qualidade dos relacionamentos profissionais. São tão queridos e confiáveis, que conquistam a lealdade da equipa e do líder. Enquanto crescem, crescem com os outros. Num contexto institucional com pessoas cooperadoras, as pessoas trabalham umas com as outras e o desempenho colectivo é acima da média.
Como desenvolver um Perfil Cooperador?
Se fazendo uma autoanálise você conclui que tem perfil cooperador, meus parabéns, e tomara que um dia possamo-nos cruzar e trabalhar juntos. Mas também para outros líderes você é o tipo de colaborador que procuram, pois alguém com perfil cooperador, ainda que não reúna todos os requisitos técnicos, fará de tudo para aperfeiçoar-se, aprender e desenvolver-se rápido. Se concluiu que tem perfil competidor, mudar é urgente. Seguem abaixo algumas dicas:
- Mude sua visão de mundo!
Busque exemplos de profissionais e individualidades cooperadores e inspire-se neles. Hoje em dia, com as redes sociais você pode segui-los, caso estejam distantes que não seja possível a convivência. Pense em situações da sua vida em que cooperou e logrou bons resultados, reviva a sensação de satisfação e, no dia a dia, busque repetir o comportamento que mantinha. Assim, passará a ver o universo com lentes de aumento. - Conheça-se!
Olhe para os seus recursos internos e responda “o que você mais gosta de fazer, que faz quase sem sentir que se esforça”? A isso se chama DOM! Todos temos dons, não existe pessoa sem dom, o que pode acontecer é você não gostar do seu dom e querer tom dom igual ao do outro. Lembre-se que isso é de quem está em estado interno de sofrimento, de quem se compara, e pretende-se que se liberte disso. Então, descubra o seu dom e o aprecie, aperfeiçoe. - Rentabilize o seu dom!
Olhe para dentro da sua equipa, sua organização ou para o mercado e veja em que áreas esse dom é utilizável de forma sofisticada e lute (ainda que implique concorrer) para fazer parte desse lugar, ainda que implique se actualizar por meio de estudo ou da prática; pois faça isso. - Seja grato!
Gratidão é um santo-remédio! Quando estiver a utilizar o seu dom da forma desejada, dê tudo de si, seja grato, para manter o estado interno de graça e seus benefícios. Se quiser desenvolver novos talentos, meu conselho sincero é de que volte a si e explore ao máximo os recursos internos, descobrindo outros dons. Quanto mais ocupado em se auto-conhecer, mais fascinado ficará consigo mesmo, mais oportunidades conseguirá criar para si próprio e menos se incomodará com os dons e oportunidades alheias; seus relacionamentos pessoais e profissionais serão mais ricos e sua vida profissional mais tranquila e prazerosa.
Gostou? Use na sua vida e partilhe com quem acha que precisa ou com quem seria interessante comentar. Amplie a visão de mundo de alguém, seja você um multiplicador! Vemo-nos na próxima matéria, que já está no forno e está imperdível.
Votos de uma vida de abundância,
De sua Menina de Confiança
Mana Kat@ ,como carinhosamente te trato.
Estas de parabéns pela abundância de “palavras” na sua sabedoria. Gostei do Blog. Continue ensinando nós outros. A cada parágrafo um aprendizado…. Num momento de “crise COVID-19” suas palavras são uma alavanca…..
Muito obrigada pelo feedback, meu querido amigo.
Volte sempre, aliás, fique por aqui; escrevo com muito carinho para nosso crescimento mútuo.
Vamos crescer juntos!
Um abraço